O DIA QUE CONHECI O BICHO-PAPÃO

Lá pelas tantas calculo que devia ser de madrugada, senti a pressão imensa de um corpo esmagando o meu e, ao mesmo tempo, ouvi uma voz sussurrando no meu ouvido: "Rodrigo, acorda", "Rodrigo, acorda", "acorda, garoto." Não era a voz de Leonora anunciando que o sol já nascera e que José Roberto estava lá fora me esperando no carro. O quarto continuava escuro, e da rua não saltava nenhum ruído indicativo de tráfego; com exceção da voz que pronunciava meu nome, tudo permanecia em silêncio. Também não era a voz materna tentando me acordar para outro tedioso dia de aula. Não havia aula durante as férias escolares, e minha mãe, a menos que tivesse voltado para se despedir novamente, não poderia estar lá.